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Do Luto ao Iroman: Após suicídio do filho, corredora cria desafio pessoal e grupo de apoio

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“A Chegada é só o Começo”. Esse é o lema da nossa mãe corredora, Viviane Simmer, de 47 anos. Ela idealiza mais que um projeto. Um propósito de vida. “Do luto ao Iroman”, ela está em busca de ressignificar a sua vida após o suicídio do filho Bruno, de 23 anos.

Ao mesmo tempo em que trabalha, corre, nada e pedala, Viviane também criou um grupo de apoio online para ajudar outras pessoas e famílias que passam pelo mesmo sofrimento do suicídio e também utiliza as redes sociais para contar a sua história no esporte. Ouça a entrevista!

CONHEÇA A HISTÓRIA DA VIVI

Reportagem: Dani Saquetto

Viviane Simmer, de 47 anos, perdeu seu filho de 23 anos para o suicídio e decidiu transformar sua dor em ação. Com a vontade de cuidar de si mesma e ajudar outras pessoas que passam pelo mesmo sofrimento, ela criou o projeto “Do Luto ao Ironman” e um grupo de apoio online para enlutados do suicídio. Além do disso, a atleta usa as redes sociais para mostrar como o esporte se tornou uma ferramenta de enfrentamento ao luto e como o Triathlon ressignificou sua vida.

“Meu filho começou apresentar sintomas de depressão aos 18 anos e durante cinco anos fizemos todo acompanhamento psicológico e psiquiátrico disponível, mas infelizmente ele faleceu por suicídio no dia 26 de dezembro de 2020. Com o impacto dessa perda, minha mãe sofreu um AVC, ficou um ano e meio hospitalizada e faleceu. Minha família toda viveu esse luto complicado junto comigo”, lembrou Viviane.

A trajetória de Viviane no esporte começou com as corridas de rua em 2012. Ela iniciou os treinos de corrida e conseguiu completar pela primeira vez a Dez Milhas Garoto – uma das corridas de rua mais tradicionais do Brasil e a mais importante do Espírito Santo. Em 2018, ela se desafiou a completar uma maratona em homenagem ao filho, que enfrentava depressão. Bruno a esperou na linha de chegada com um cartaz que se tornou o lema de vida: “A Chegada é só o Começo”.

Bruno esperava Viviane na linha de chegada com o cartaz que se tornou lema de sua vida. Foto: Reprodução/Instagram

Depois veio a perda de Bruno e a hospitalização da mãe após o AVC. “Nesse período eu parei de fazer esportes e ficamos em função de cuidar dela. Em outubro de 2019, enquanto a acompanhava no hospital, vi na televisão a notícia de quebra de recorde de maratona e Ironman. Naquele momento eu tive um ‘insight’, eu precisava me cuidar, me desafiar para completar o Ironman, esse seria meu motivo para continuar vivendo”, contou Viviane.

No final de 2019, Viviane começou a treinar o triathlon para o Ironman. Nesse meio tempo, a mãe não resistiu e faleceu. Foi quando o esporte entrou de vez como uma ferramenta de enfrentamento na vida da atleta. Com o apoio de treinador Kadu Brito, voltou a treinar. Apesar do Ironman ter sido cancelado em 2021 , a atleta se aventurou em uma prova do Campeonato Brasileiro de Aquathlon, em Imbassaí (BA), e foi campeã da categoria dela.

“Surgiu a oportunidade de fazer essa prova e eu não tinha dinheiro nem para a passagem. Eu fiz rifa, campanha na internet e consegui ir. E para minha surpresa, eu consegui ser campeã da minha categoria. Eu não esperava tanto. Voltei dessa prova e um grupo de amigas me recebeu com um cartaz com a frase igual ao que meu filho fez para minha na maratona em 2018. Foi quando surgiu a ideia de fazer os produtos com essa frase: canecas, camisas, meias…”, relatou.

Viviane persiste no desejo de completar um Ironman. E para conquistar essa vitória conta com uma rede de apoio virtual e doação de quem abraça sua história. Também vende os objetivos com a frase “A Chegada é só o Começo”.

GRUPO DE APOIO

Nas redes sociais, a triatleta passou a compartilhar a rotina de treino e como usava o esporte como ferramenta para lidar com o luto. Foram tantas mensagens de apoio e de agradecimento, uma verdadeira enxurrada de carinho. Nesse momento, se viu como uma inspiração para outras pessoas que passavam pela mesma situação. A partir daí, foi convidada para participar do documentário “Laços e nós: tecendo histórias do luto por suicídio”, exibido no Youtube.

Segundo a Associação Internacional de Prevenção ao Suicídio, cada morte por suicídio afeta outras 135 pessoas, que ficam psicologicamente abaladas e traumatizadas, chamados de sobreviventes enlutados. Somado ao fato de que parentes e pessoas próximas de suicidas têm risco até dez vezes maior do que o restante da população de, eles próprios, tentarem tirar a própria vida.

Quando as pessoas chegam a um grupo de apoio, carregam consigo não apenas uma imensa tristeza, mas também culpa e diversas perguntas. “Por que isso aconteceu? Como eu não percebi nada? Será que pode acontecer de novo com a minha família?” são os questionamentos mais comuns entre quem acaba de perder uma pessoa querida para o suicídio.

Como ajudar essas pessoas a lidar com tamanha dor? Viviane criou um grupo de apoio emocional para familiares enlutados do suicídio. 25 sobreviventes participam de sessões online onde trocam experiências, conselhos, dores e ferramentas para o posvenção. Não há psicólogos ou profissionais da saúde, são pais, mães, irmãos, filhos, que buscam apoiar uns aos outros no processo de luto.

Há alguns anos, Viviane participa de congressos e reuniões da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção de Suicídio – ABEPS. “Eu descobri que ajudando, sou ajudada. O meu anjinho está lá no céu e vai me dando dicas do que fazer. Eu tenho ressignificado o meu luto e tento ajudar outros sobreviventes. Busco ajudar e acolher. Damos as mãos de forma virtual. No grupo ouvimos histórias, tentamos entender que não temos o controle, o suicídio é multifatorial, é muito complexo. Nós temos que falar sobre, as pessoas precisam de conhecimento sobre o assunto”.

O grupo de apoio reúne familiares enlutados pelo suicídio de todo o Brasil. As reuniões mensais tem duração de cerca de 2 horas. Para ingressar no grupo, basta preencher um formulário online e entrar em contato via WhatsApp ou Instagram para um bate-papo. O sonho agora é reunir todos os participantes do grupo em um evento presencial para que possam se abraçar e se conhecer pessoalmente.

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