Corredora há cinco anos, Meg Seixas, 39 anos, faz um relato emocionado ao portal Dani-se. Vou Correr (www.dani-se.online) após vencer o Covid-19. Ela, que treinava 10km por dia, ficou internada no mês de abril, e pede muita cautela aos colegas corredores nesse momento de retorno aos treinos. Confira!
Sintomas e internação
Eu fiquei internada durante cinco dias em um hospital particular na Serra. Antes disso, cheguei a ir três vezes já mal para o hospital e retornava para casa. Quando precisei ser internada na Semana Santa, já estava quase sem respirar. Eu corria 10km todos os dias e com o Covid eu não conseguia dar um passo que eu caía no chão. Eu não conseguia pensar em levantar o braço. Doía muito, as costas, a mão, o peito carregado… Eu tinha uma tosse infeliz. Tive todos os sintomas. Os médicos consideraram de forma grave. Precisei de todas as medicações.
O medo, a solidão e a “família” do hospital
Chorei muito e pensava: se o mundo está morrendo disso, porque eu não? Tenho um filho de 13 anos e foi complicado deixá-lo em casa, virar as costas e falar: tô indo para o hospital! E pensar: não sei se volto. A gente tem muita fé em Deus, mas nessa hora é desesperador. No Domingo de Páscoa os enfermeiros entraram e falaram que eu não poderia mais conversar com ninguém. Nem videochamada, nem telefone. Minha saturação sanguínea ficou muito baixa e eu tinha que ficar quieta senão ia entrar na UTI.
Cara, você fica muito sozinho! O Covid é uma solidão péssima. Horrível. Porque quando você está internada no hospital ou você tem acompanhante ou tem horário de visita. O Covid é só você e os enfermeiros. Eles entram no quarto, conversam um pouquinho, mas é só aquele olhar. Eles são a sua família ali. São eles que confiam na sua recuperação e fazem de tudo para isso acontecer.
É só uma fase, é só um ano complicado, é um ano pra gente colocar a cabeça no lugar e refletir sobre muitas coisas da nossa vida. Quem não estiver fazendo isso está perdendo tempo.
Alerta aos colegas corredores
Mas eu vou falar um negócio pra vocês. Não brinca não. Não brinca se você teve ou não teve sintoma grave. Foi sorte. Agradece. Não brinca achando que não é nada, só porque você não teve. Só porque ninguém da sua família e nenhum conhecido ainda pegou, precisou de internação ou até morreu. Não brinca. Quer voltar a treinar? Volta, mas se conscientiza de que você pode ter sintomas e não aparecer. De que você pode ser culpado de transmitir e a outra pessoa que passou do seu lado daqui a sete dias se internar e morrer.
Felizmente a gente tem que pensar no outro o tempo inteiro. Porque é um vírus complicado de se entender porque é tudo muito novo. Quer voltar a correr? Volta em outro horário. Acorda mais cedo. Vai no horário que sempre esteve vazio. As pessoas estão deixando para ir no horário que está muito cheio e fazer atividade física de máscara não é legal. Os médicos estão pedindo para não fazer. A não ser que seja a máscara esportiva. A esportiva sim, é um conforto espetacular. Não consegue correr de máscara? Procura um lugar afastado. Vai para o meio do mato. Faça a sua terapia no meio do mato.
Corrida: saúde e responsabilidade
Correr é muito disso, né? É físico, saúde e terapia. Para mim é assim: coloquei o pé no calçadão, minha mente voa. Pra mim isso é diário, é perfeito, é maravilhoso. É o que me faz respirar, é o que me faz me acalmar é o que me faz ter uma boa noite de sono. Mas agora a gente tem que pensar em todo mundo. Não é só em mim de jeito nenhum. Eu não vou pensar só por mim.
Então, eu acho assim, a conscientização nessa hora tem que ser muito grande. A gente precisa voltar aos nossos treinos, a gente precisa voltar a fazer as nossas atividades físicas, mas precisamos ter essa mentalidade.
Não custa nada treinar dentro do próprio bairro, em outro horário. Vai custar a sua saúde, porque você vai fazer a sua atividade física só que não no mesmo lugar que você fazia sempre. Juntar grupo nessa hora não é legal. Continua conversando com seus amigos pelo celular e pelos grupos de WhatsApp.
Reflexão
Eu acho que vai chegar sim a hora que a gente vai voltar a aglomerar numa corrida, que a gente vai voltar para o ‘vuco-vuco’ da largada e vai ser muito bom ficar lá da hora que a gente chegou e estender até quase o meio-dia. Essa hora vai voltar e a gente tem que ter fé nisso. É só uma fase, é só um ano complicado, é um ano pra gente colocar a cabeça no lugar e refletir sobre muitas coisas da nossa vida e quem não estiver fazendo isso está perdendo tempo.
Refletir sobre o mundo que a gente está vivendo, sobre as pessoas que estão ao nosso lado, e dá para voltar a fazer atividade física, mas a gente tem que parar pra pensar um pouquinho em como a gente volta. Não é moleza, gente! Sair disso é complicado. Mas graças a Deus eu estou aqui para contar história e voltei a correr com muita cautela e muito respeito ao próximo. E é isso que a gente tem que fazer, tá bom? Vamos respeitar o próximo!
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