Não estamos nem na metade do ano e já tem muita gente que já desistiu das metas que ainda não se tornaram hábito. Se você está nesta lista – e conhece suas fraquezas, fique atento aos que são considerados os maiores ladrões de foco. A lista é da neurocientista parceira do SUPERA – Ginástica para o cérebro, Livia Ciacci, confira:
Pense no cérebro como um grande sistema fechado de processamento de informações, que trabalha com uma quantidade constante de energia disponível. Em cada tarefa mental, focamos a atenção para usar os circuitos de neurônios necessários para a tarefa. Se durante esse processo, outra coisa desvia a atenção, aquele raciocínio em andamento para imediatamente, porque o cérebro só processa conscientemente a atividade em que a atenção está focada e só uma tarefa de cada vez.
“Quando voltamos a atenção do distrator para a tarefa inicial, acabamos demorando mais para conseguir retornar ao mesmo ponto de onde estávamos. Esse efeito negativo das interrupções na atenção é tão sério que é um assunto extensamente discutido no trabalho das tripulações de vôo, cirurgiões e equipes de saúde, porque pode aumentar muito o risco de erro humano”, detalhou a especialista.
Smartphone:
Notificações constantes de mensagens, redes sociais e aplicativos interrompem a concentração completamente porque criam um comportamento condicionado em nós. Cada vez que você clica na notificação, recebe uma injeção de neurotransmissores que te dão uma sensação de satisfação e o anseio pela próxima notificação. Segundo Charles Duhigg (2012), adquirem-se novos hábitos para suprir os anseios, que podem ser necessidades sociais, emocionais, físicas ou outras. Os variados alertas que o smartphone emite representam anseios sociais e emocionais, por isso quanto mais verificamos o aparelho, mais vontade temos de vigiá-lo, mais difícil fica resistir e mais difícil ainda fica retornar ao raciocínio que estávamos anteriormente.
E-mail:
Assim como as notificações, verificar o e-mail constantemente fragmenta o seu foco, além do fato de que manter a janela de e-mail aberta cria uma vigilância extra no cérebro, essa hipervigilância na expectativa do que vai chegar aumenta a ansiedade.
Mídias sociais:
Se você já rolou o feed no Facebook ou no Instagram por horas e horas sem objetivo nenhum, saiba que experimentou um ciclo vicioso de busca de recompensa que faz seu cérebro esquecer do mundo. Meia dúzia de curtidas pode levar ao êxtase, e esse entusiasmo sinaliza para o cérebro que se continuar rolando, pode ter mais dessa sensação, e, de repente, passou 2 horas.
Mensagens instantâneas: Conversas online podem ser muito distrativas.
Nós lidamos com o mundo real e o virtual sem ter muito preparo para isso. Um bom exemplo é quando uma mensagem no WhatsApp demora para ser respondida e dispara uma onda de ansiedade. O cérebro entende isso como se o remetente estivesse na sua frente e escolhesse por te ignorar, ativando áreas neurais que processam a dor da rejeição. Então, as mensagens instantâneas interrompem porque podem facilitar a ansiedade social da expectativa das respostas imediatas e quando essas respostas realmente são imediatas, nos fazem dividir atenção e perder produtividade nas outras atividades.
Ambiente desorganizado:
Geralmente subestimamos o poder do ambiente sobre nosso comportamento, mas o cérebro está o tempo todo monitorando o espaço automaticamente. Um local de trabalho bagunçado pode prejudicar a concentração porque traz estímulos distratores constantemente no campo visual e porque dificulta que tenhamos a clareza do que deve ser feito naquele momento.
Barulho:
Ruídos externos podem atrapalhar o foco, principalmente os ruídos que sejam muito altos ou que conflitam com o tipo de tarefa que se está tentando cumprir. Por exemplo, se preciso escrever um texto, mas tem pessoas do meu lado falando alto, a eficiência do foco será ruim, porque tanto a tarefa quanto o distrator mobilizam os mesmos circuitos de processamento da linguagem. O que seria diferente caso estivesse tocando apenas uma música instrumental, onde seria mais fácil focar no meu texto e ignorar o som.
Procrastinação:
A procrastinação tem várias causas, e uma delas é a falta de clareza do que deve ser feito com a sensação de que a tarefa está acima dos meus recursos para cumpri-la. Como se essa tarefa fosse julgada pelo cérebro como “muito difícil” ou “muito desconfortável”, mesmo não sendo tão difícil assim. Quando isso ocorre, adiamos as tarefas importantes, o que faz surgir um sentimento de culpa e aflição que vai atrapalhar a atenção nessa e nas outras atividades.
Falta de metas claras e planejamento:
Complementar à procrastinação, sem metas definidas você pode se perder no que está fazendo. O cérebro precisa planejar cada nova ação de forma bem detalhada, por isso a clareza é a maior arma de quem quer aumentar a produtividade e melhorar os resultados do trabalho ou estudo. Teremos mais facilidade para focar a atenção, se a lista do que fazer estiver detalhada, passo a passo.
Multitarefa:
As multitarefas são o grande mal do mundo do trabalho contemporâneo. Tentar dividir a atenção entre várias coisas ao mesmo tempo vai diminuir a eficiência e aumentar o risco de erros, sempre. Pense na sua atenção como um bolo de aniversário, quanto mais convidados tiverem na festa, menor será a fatia oferecida para cada um. Quanto mais coisas sendo feitas simultaneamente, menor a fatia de atenção em cada uma. No cérebro, as informações vistas no troca-troca de tarefas não chegam nem a virar memórias de curto prazo, o que dificulta a consolidação de conhecimento. No longo prazo, o hábito de alternar tarefas constantemente vai tornando as pessoas mais “rasas” por perderem a habilidade de fazer associações mais profundas.
Estar com fome, sede, cansado ou com sono:
O cérebro monitora o tempo todo qual o estado de saúde e de viabilidade do corpo humano, então ele sabe exatamente se você está com fome, com sede, cansado ou se dormiu mal, sendo que todos esses dados influenciam diretamente no estado emocional de fundo, que tem o poder de nos deixar mais ou menos alertas, mais ou menos irritados e claro, mais ou menos concentrados.
Reuniões improdutivas:
Já falamos de clareza nesse texto? Sim! Ter clareza na sequência de ideias e decisões tomadas também vale para as reuniões em grupos de trabalho ou estudo. A consultoria Korn Ferry já publicou uma pesquisa feita com 1.945 trabalhadores e concluiu que 67% dos participantes sentiam que reuniões em excesso prejudicam a eficácia do seu trabalho, enquanto 34% desperdiçaram até 5 horas por dia em reuniões sem sentido. Uma reunião improdutiva prontinha para detonar seu fofo é aquela que: não tem objetivos específicos definidos, os participantes não sabiam da pauta antes, falta uma pessoa que monitore o tempo e o foco nos assuntos, ocorrem constantes desvios de assunto ou conversas paralelas e falta a pessoa responsável pela ata e por compartilhar com todos quais as ações definidas e seus prazos.
Interrupções constantes: Colegas de trabalho ou familiares interrompendo suas tarefas.
Toda interrupção, seja por aparelhos tecnológicos ou por outras pessoas, é uma barreira ao fluxo de trabalho/estudo, ou seja, o trabalho cognitivo perde seu andamento e consequentemente gastará mais tempo e energia para atingir o objetivo final. A tese de doutorado de Adriana Bridi mostrou o impacto das interrupções nas atividades de enfermagem em terapia intensiva, concluindo que cada interrupção ocasionou uma atividade secundária, aumentando em aproximadamente 60% a carga laboral dos profissionais, e claro, o risco de erros.
Preocupações: Estresse e preocupações pessoais podem distrair.
O cérebro não monitora apenas o corpo, mas também o que se passa nos pensamentos, e as preocupações com situações específicas ou com o futuro pode tirar completamente o foco. Ao perceber que está com dificuldade de concentração porque está preocupado, você pode tentar escrever em sua agenda o que precisará fazer depois para resolver essa preocupação e programar um alarme para o horário. Essa estratégia visa “descarregar” a preocupação em um momento certo para se ocupar com ela, e tende a ajudar a mente a esquecê-la momentaneamente.
Perfeccionismo: Tentar fazer tudo perfeitamente pode ser um ladrão de tempo.
A sensação de ter receio de fazer ou terminar algo por achar que não está perfeito o bastante é bem comum e tem relação com o nível de autoconfiança e a tolerância aos erros. Vale lembrar que todas as pessoas que são excelentes no que fazem, começaram sem ter tanta perfeição e estavam dispostas a aprender com as falhas. Como já disse o escritor Mark Manson “Só podemos atingir a excelência em algo se estivermos dispostos a falhar”.
Notícias constantes: A constante atualização de notícias pode ser uma distração.
As notícias em si não são o problema, mas usá-las para preencher o tempo porque surgiram notificações (e você não resistiu) ou está procrastinando uma tarefa que não planejou bem, pode ser um hábito perigoso, que criará um ciclo vicioso muito parecido com as mídias sociais.
Redes de jogos ou apostas online: Jogos e apostas podem ser altamente viciantes.
Jogos e apostas tem um grande poder de sequestrar a nossa atenção, e são ladrões de tempo mais perigosos para aquelas pessoas mais vulneráveis a essas tentações, porque o limite entre o hábito e o vício é muito tênue.
Comparações com os outros:
Se comparar com os outros, além de ser um ladrão de foco é também um ladrão da autoestima! A maior armadilha da comparação está no fato de que só vemos recortes da vida dos outros, e geralmente são os recortes que as pessoas querem mostrar, o que dá a falsa sensação de perfeição. Não caia nessa cilada, todo mundo tem sua trajetória, suas dificuldades e suas conquistas, mantenha o foco na sua estrada e na sua evolução, seu cérebro agradece!
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