Histórias

De muletas, corredor que teve a perna amputada faz provas de 5k

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Na noite de 17 de junho de 2018, data da estreia da Seleção Brasileira na Copa do Mundo, Eder Lemos Sodré estava parado em sua moto aguardando o sinal verde em um semáforo da Rodovia Norte Sul, na Serra, quando foi surpreendido por um carro.

“Eu estava ao lado do Parque da Cidade, no bairro Laranjeiras. Parei no cruzamento no sentido Jardim Limoeiro quando veio um motorista, supostamente alcoolizado, passou por cima da minha perna na altura da panturrilha esquerda, e ultrapassou o sinal. Com o impacto da batida, virei para trás e caí. A moto ficou intacta e escorada no meio fio”, relata.

A partir daí, o destino do corredor iniciante começou a mudar. “Eu fiquei totalmente consciente. Tentei levantar para ver qual carro tinha me atingido, mas um outro veículo que estava no cruzamento impediu minha visão. Então, me arrastei para o canteiro, para não ser atingido por outros carros e gritei por socorro. Começaram a aparecer pessoas e acionaram o Samu, que veio rapidamente.

‘Pensei que não ia mais correr’

Eder conta que tinha começado a correr poucos meses antes do acidente e que, após ver que a perna estava bem machucada, teve a consciência de que não ia mais conseguir praticar a atividade física.

“Demorei muitos anos para descobrir um esporte que me desse satisfação. Fiz boxe, natação e nada disso me dava o prazer que a corrida estava me proporcionando. Corria dia sim e dia não. Acordava às 5h da manhã para ir treinar, voltava, tomava um banho e ia trabalhar às 8h”, conta.

Mineiro da cidade de Ipatinga, o corredor que morava há três anos no Espírito Santo, relata os momentos de desespero após a tragédia que mudou o seu destino.

“Comecei a entrar em estado de choque porque perdi cerca de 50% do meu sangue. Mesmo assim, não fiquei inconsciente em momento algum. Até tentei levantar, porque imaginei que era uma batida boba. Mas quando vi a perna, tive a consciência que a tinha perdido. A parte óssea estava cheia de fraturas e o meu pé girou 360º. A artéria femoral também foi cortada e a equipe médica me disse que se o socorro tivesse demorado mais três minutos eu teria morrido”.

Apesar da rapidez do socorro, Eder teve duas paradas respiratórias.

“Eu tive duas paradas respiratórias. A sensação era de uma pedra caindo no meu peito. Em cada das paradas eu senti meu corpo falecendo e ouvia a equipe médica gritar: “Massagem cardíaca”. Eu apagava e voltava”, conta.

Eder conta, emocionado, o pedido especial que fez aos médicos quando soube que teria que amputar a perna: “Salva o meu joelho”.  Isso porque, segundo Eder, se fosse procedimento padrão e, não um pedido de um corredor, a equipe médica teria feito a amputação da perna na altura da coxa.

Ao longo do processo de recuperação, Eder passou pela câmara hiperbárica e fez uma segunda cirurgia para enxerto.

“Em momento algum, eu questionei: Deus, porque comigo? O meu sentimento em relação à vida é de gratidão. Tive a oportunidade de recomeço, mesmo que seja de uma nova forma. Sou uma criança que nasceu de novo”.

“Meu sentimento maior é de indignação com a impunidade de quem fez isso comigo e com a displicência da polícia. Fiquei meses no hospital e a polícia não foi até lá. Ao cobrar providências, me disseram que eu deveria procurar a Delegacia de Trânsito. Como? Eu sentia dor 24 horas por dia. Ora suportável, ora insuportável”.

Com a família morando em Minas, Eder precisou contar, em muitos momentos com a ajuda de amigos corredores. “Minha noiva e minha mãe precisaram ir de Minas ao ES para me acompanhar. Os meus amigos corredores fizeram uma ação solidária durante o período que eu estava no hospital”.

Ainda no hospital, esperança! 

Ainda em cima da cama do hospital, Eder já alimentava a vontade e a esperança de voltar a correr.

“Nem que seja de muletas! Eu vou voltar para a pista. Posso ser o último colocado, mas eu vou fazer as provas levando a bandeira contra os acidentes de trânsito que mutilam e matam pessoas todos os dias”.

De muletas, a primeira corrida

Cinco meses após o acidente, a esperança de Eder se tornou uma realidade e o corredor voltou para o asfalto. “Minha primeira corrida foi a Circuito Unimed – Etapa Coronel Fabriciano, em Minas Gerais. De muletas, fiz o percurso de 5k. Pra mim, a parte mais emocionante foi a chegada. A emoção foi tanta que eu não senti dores ao longo do percurso. Só no dia seguinte. Hoje faço parte do grupo “Galo Runners”, equipe aqui da minha cidade, em Ipatinga. Já fiz quatro provas – uma de 6k e as outras de 5k”, conta.

a 1ª Prótese

Ao sair do hospital, Eder criou duas ações para a compra de uma prótese – uma “Vakinha Virtual”, onde já arrecadou a quantia de R$ 1.560,00, e uma rifa no valor de R$ 7 mil. Com a ajuda de um grupo de empresários amigos de Portugal, conseguiu a quantia de R$ 23 mil e comprou uma prótese. No entanto, o aparelho adquirido ainda não é o ideal para corrida, apenas para o dia-a-dia.

Campanha

Agora, Eder dá início a uma nova campanha para adquirir uma prótese voltada para a corrida. Dani-se apoia a iniciativa e convoca os seus seguidores a ajudarem com qualquer quantia.

“A prótese que preciso para correr custa R$ 34.6 mil. Essa seria a ideal para correr. Por isso, vou continuar a “Vakinha Virtual” e com a ajuda dos amigos e das pessoas que se sensibilizarem com a minha história, vou conseguir comprar o aparelho, se Deus quiser”.

E aí, vamos ajudar esse guerreiro a voltar pra pista com uma prótese ideal para corrida?

DOE QUALQUER VALOR!

Inspiração

Quando estava no hospital, Eder escreveu o texto abaixo e publicou no Facebook. Leia o relato emocionante e siga o conselho desse corredor inspiração: Desacelere!

Compartilhando pensamentos e sentimentos

Hoje me levantei. Fui ao banheiro pela primeira vez, de muletas, para poder tomar banho. Tomei um delicioso banho sentado em uma cadeira comum de plástico. Pensamentos borbulhando sem parar… Típico de mim, né? (rs) 

Após o banho, me coloquei de pé com auxílio das muletas e o olhar atento da minha mãe, como quem olha o filho que vai dar o primeiro passo. Apoiei minha perna amputada numa barra de segurança, que tem em volta da pia e consegui, com ela, segurar meu corpo em pé. Comecei a fazer minha barba, com os pensamentos borbulhando. 

Minha mãe já havia saído do banheiro para pegar algumas coisas. Quando voltou, me encontrou chorando muito. Ficou assustada, mas logo expliquei que foram alguns sentimentos oriundos desse borbulhar de pensamentos que haviam escapado pelos olhos, como o condensar das nuvens que se derramam em chuva. 

Naquele momento ali, eu apenas descobri como fazemos coisas no nosso dia a dia, tão corrido, e nem percebemos a grandeza de tudo. Descobri que é preciso desacelerar pra perceber o quão pouco somos gratos por acordar, abrir os olhos, ficar de pé e ter pleno equilíbrio para andar e fazer nossas coisas. Parece que passei a ver o mundo de uma lente macro, onde tudo que era simples e básico, como me barbear, se tornou gigante e desafiante. 

Só tem duas formas de você descobrir isso: desacelerar. Precisamos ter um tempo para desacelerar. Não tempo para você ficar na frente da TV, se entupindo de lixo tóxico. Mas sair, correr pra relaxar, pedalar, subir um monte, ficar olhando a paisagem, conversar com as flores, sentir seus movimentos com intensidade, aproveitar o ar, sentindo o movimento da respiração. 

Ou, esperar que algo te desacelere, como aconteceu comigo. Não pense que estou triste por isso, estou grato a Deus que me deu tudo isso: vida, equilíbrio (mesmo eu tendo que reaprendê-lo), amigos com quem posso contar, parentes pra me dar apoio físico e mental e a oportunidade de hoje perceber melhor tudo isso. 

Desacelere! Pelo menos uma vez por semana ou uma hora por dia, para sentir o milagre da vida e ser GRATO. A frase de hoje é: “Ando devagar porque já tive pressa, levo esse sorriso porque já chorei demais”. [Éder Sodré]

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